Claudino Lopes vendia cocadas na BR-153 quando houve o acidente que matou 4 pessoas — Foto: Arquivo Pessoal
Claudino Lopes vendia cocadas na BR-153 quando houve o acidente que matou 4 pessoas — Foto: Arquivo Pessoal

O vendedor ambulante Claudino Lopes, de 56 anos, vivia mais um dia comum na rotina de trabalho às margens da rodovia Transbrasiliana, a BR-153, quando foi atingido em um engavetamento entre dois caminhões e três carros em Campos Novos Paulista (SP). Quatro pessoas morreram no acidente.

Nesta segunda-feira, dia 4 de setembro, data que completa duas semanas do grave acidente, Claudino ainda se emociona ao lembrar do que passou em 21 de agosto de 2023.

“Eu estava a pé no acostamento, nem no carro eu estava, foi Deus que esteve ali do meu lado o tempo todo. Eu nasci de novo”, relata.

No dia em questão, o comerciante, que mora em Marília, saiu de casa com a pontualidade de sempre. “Como faço todos os dias, saí às 5h30 da manhã para ir pra rodovia”, pontua.

Ao lado de outras duas pessoas, o vendedor de cocadas escolheu ficar na altura do quilômetro 314 da BR-153, em Campos Novos Paulista. A escolha foi uma estratégia de vendas, já que o trecho passava por obras e o tráfego fluía em sistema “Pare e Siga”.

“Resolvemos ficar ali mesmo. Primeiro trabalhamos no sentido Marília – Ourinhos, quando deu por volta das 11 horas da manhã, eu troquei de lugar e fui para o sentido contrário”, relembra.

As memórias de Claudino sobre aquele dia passam a ficar escassas a partir deste momento com a aproximação do acidente, registrado por volta das 13h. “Comecei a vender no sentido contrário, fiz o último carro ali na fila oferecendo os doces, daí eu não lembro de mais nada, só de acordar no hospital e o povo falando do acidente”, conta o vendedor.

De acordo com a Polícia Rodoviária Federal (PRF), um caminhão baú que seguia no sentido Marília (SP) da pista perdeu o freio durante uma ultrapassagem irregular e causou uma batida em sequência, que envolveu três carros e outro caminhão. Todos estavam parados na pista por conta das obras.

Engavetamento envolveu cinco veículos, dois caminhões e três carros, na BR-153, em Campos Novos Paulista — Foto: Corpo de Bombeiros/Divulgação
Engavetamento envolveu cinco veículos, dois caminhões e três carros, na BR-153, em Campos Novos Paulista — Foto: Corpo de Bombeiros/Divulgação

Quatro pessoas morreram no acidente. Três delas eram da mesma família e estavam no mesmo carro. O motorista de um outro automóvel envolvido na colisão também morreu no local.

Além das quatro mortes, outras cinco pessoas se feriram no engavetamento e precisaram de atendimento hospitalar: c caminhoneiro que ocasionou o acidente; mãe e filho que seguiam num terceiro carro; o quarto ocupante do veículo onde três pessoas da mesma família morreram; e Claudino Lopes, o único que estava a pé no momento da batida.

Dores da recuperação

O vendedor ambulante foi levado para o Hospital das Clínicas de Marília, onde recebeu atendimento médico e, aos poucos, pôde assimilar o que havia acontecido.

Apesar da rápida liberação do hospital, que veio no dia seguinte, Claudino continua sofrendo com as marcas físicas e psicológicas deixadas pelo acidente.

“Agora me encontro numa cama com o joelho quebrado, sem poder fazer nada. Só eu trabalhava, minha esposa está parada, mas ainda bem que ela está em casa, porque, se não, eu estaria perdido. Eu não levanto para nada aqui no sofá, eu estou tomando banho de pano, minha situação está horrível”, relata.

Claudino Lopes sofreu uma fratura no joelho após acidente na BR-153 — Foto: Arquivo Pessoal
Claudino Lopes sofreu uma fratura no joelho após acidente na BR-153 — Foto: Arquivo Pessoal

No momento, ele aguarda a realização de uma cirurgia no joelho, marcada para a próxima terça-feira (5), para dar continuidade à recuperação. Enquanto isso, a família se desdobra financeiramente para manter as contas em dia.

“Vou operar se Deus quiser. Mas é horrível ficar parado. Carro para pagar todo mês a parcela, água, luz, a prestação da minha casa, comida. Naquela semana, na quinta feira, minha filha ia fazer 16 anos eu estava juntando moedas para levar ela pra comer pizza. Daí, me acontece isso, minha esposa teve que pegar as moedas para comprar as coisas em casa”, relata.

Vendedor preparava surpresa de aniversário para filha antes de acidente — Foto: Arquivo Pessoal
Vendedor preparava surpresa de aniversário para filha antes de acidente — Foto: Arquivo Pessoal

Sem ter como se locomover e, consequentemente, trabalhar, Claudino torce pela generosidade das pessoas para poder alimentar a família. “Estamos vendo se conseguimos a doação de uma cesta básica”, diz.

Apesar do pedido e das dificuldades impostas pela situação, Claudino não deixa de agradecer a chance de ter saído vivo de um acidente tão grave.

“A ajuda fica a critério de cada um. Eu só quero agradecer a todos Deus por ter me mantido vivo. Que ele abençoe a cada um”, sentencia.

Acidente envolveu dois caminhões e três carros, em Campos Novos Paulista — Foto: PRF/Divulgação
Acidente envolveu dois caminhões e três carros, em Campos Novos Paulista — Foto: PRF/Divulgação

Acidente na BR-153

O engavetamento foi registrado na altura do quilômetro 314 da BR-153, no trevo de Campos Novos Paulista, por volta das 13h, de segunda-feira. O trecho está em obras e o tráfego fluía em sistema Pare e Siga.

Quatro mortes foram confirmadas no local do acidente. Três das vítimas eram da mesma família, a professora da rede municipal de ensino de Ipaussu (SP) Vilma Bacochina Carrara, de 58 anos, e os pais dela, Adelina Bacochina e João Bacochina, ambos com 82 anos.

Vilma Bacochina Carrara e os pais e Luiz Gustavo Araújo de Castro morreram em grave acidente na BR-153 — Foto: Arquivo Pessoal
Vilma Bacochina Carrara e os pais e Luiz Gustavo Araújo de Castro morreram em grave acidente na BR-153 — Foto: Arquivo Pessoal

A quarta vítima era Gustavo Araújo de Castro, de 38 anos, que estava no carro branco. Ele era morador de Marília.

O motorista do caminhão que provocou o acidente foi hospitalizado e acabou preso em flagrante após receber alta do hospital. Ele foi solto pela Justiça após passar por audiência de custódia.

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