O Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) realiza nesta sexta-feira, dia 27 de janeiro, a primeira audiência sobre o caso envolvendo o padre acusado de matar atropelado Ângelo Marcos dos Santos Nogueira, suspeito de furtar a casa paroquial de Santa Cruz do Rio Pardo (SP). O caso foi registrado no dia 7 de maio de 2022.

Segundo o TJ, a audiência será online, por videoconferência, e está marcada para 14h. Ao todo, serão ouvidas oito testemunhas de acusação e três de defesa, além do interrogatório ao acusado, o frei Gustavo Trindade dos Santos. Após essa primeira etapa do processo, o juiz irá analisar se o réu será submetido a júri popular ou não.

O padre responde em liberdade por homicídio qualificado, após o promotor responsável pedir o aditamento da queixa contra o religioso por conta da morte de Ângelo, no dia 27 de julho de 2022, por complicações decorrentes do atropelamento, segundo laudo do Instituto Médico Legal (IML).

Padre é investigado por atropelar suspeito de furtar igreja em Santa Cruz do Rio Pardo (SP) — Foto: Reprodução
Padre é investigado por atropelar suspeito de furtar igreja em Santa Cruz do Rio Pardo (SP) — Foto: Reprodução

O juiz Pedro de Castro e Souza, da Vara Criminal de Santa Cruz do Rio Pardo, aceitou a mudança envolvendo a natureza do crime.

O crime é qualificado pela “utilização de recurso que dificultou a defesa da vítima”, e quem vai decidir sobre uma eventual condenação deverá ser o Tribunal do Júri, em data a ser marcada no decorrer do processo.

Relembre o caso

Segundo o boletim de ocorrência, o homem atropelado furtou a casa paroquial da Igreja São Sebastião arrombando uma das janelas. Ele fugiu do local levando três moletons e uma camiseta.

Uma câmera de segurança flagrou o atropelamento na Avenida Tiradentes. Nas imagens, é possível ver o momento em que o carro atinge Ângelo, que é arremessado.

Motorista que atropelou suspeito de furtar igreja em Santa Cruz do Rio Pardo (SP) foi identificado como sendo o frei Gustavo Trindade dos Santos — Foto: Reprodução
Motorista que atropelou suspeito de furtar igreja em Santa Cruz do Rio Pardo (SP) foi identificado como sendo o frei Gustavo Trindade dos Santos — Foto: Reprodução

A vítima ficou internada na Santa Casa de Santa Cruz do Rio Pardo e, depois, na Santa Casa de Ourinhos. Ângelo apresentava sequelas como perda de massa muscular, dificuldade para comunicação e necessidade de uso de fraldas.

Ele chegou a ter alta médica para tratamento domiciliar, mas, nas semanas antes de sua morte, foi necessária uma nova internação.

Após o óbito, a diocese de Ourinhos informou, por meio de nota, que lamentava o ocorrido e que se solidarizava com a família e os amigos de Ângelo.

No dia 17 de junho, o Ministério Público ofereceu denúncia contra o padre por tentativa de homicídio, qualificado pela “utilização de recurso que dificultou a defesa da vítima”, mas a natureza do crime acabou sendo alterada no processo.

A qualificadora se configura, segundo o promotor Reginaldo Garcia, porque a vítima foi atingida sem que “pudesse supor ou esperar semelhante atitude”, ou seja, de surpresa.

Com a morte de Ângelo, segundo o delegado Valdir de Oliveira, que investigou o caso, novas perícias foram realizadas para esclarecer se o óbito esteve diretamente relacionado com o atropelamento. Essa tese foi confirmada por um médico legista.

A Justiça já aceitou a denúncia da promotoria, o que torna o padre réu. Agora, foi determinada uma nova citação do acusado, que passou a declarar endereço em São Paulo.

Interrogatório

O Padre só foi ouvido no dia 9 de junho, porque não compareceu à sede do Departamento Especializado de Investigações Criminais (Deic), na capital paulista, quando foi intimado pela primeira vez. Quatro dias depois, ele ainda participou de uma missa.

Mesmo assim, o inquérito policial foi concluído, mas o MP solicitou a oitiva do padre para poder avaliar melhor o caso. Durante o interrogatório, o padre afirmou que havia terminado de celebrar um casamento, quando, na saída, escutou o alarme da casa paroquial e avistou um homem pulando o muro e fugindo do local.

O padre disse, na oitiva, que ele e a pessoa que o acompanhava no carro chegaram a pedir para o homem parar durante a perseguição. No entanto, as imagens que flagraram o atropelamento mostram os vidros do carro fechados durante todo o trajeto.

Polícia identifica segunda pessoa em carro dirigido por padre investigado por atropelar suspeito de furtar igreja — Foto: Arquivo Pessoal
Polícia identifica segunda pessoa em carro dirigido por padre investigado por atropelar suspeito de furtar igreja — Foto: Arquivo Pessoal

Ainda conforme o frei, ele encontrou um caminho para fechar o homem, mas, quando ele entrou com o carro na calçada para pará-lo, o suspeito do furto na igreja se jogou sobre o capô do veículo.

Além disso, o padre afirmou, no interrogatório, que foi embora após o atropelamento porque temeu a possibilidade de o homem estar armado. Ele também disse que, ao perceber a presença de pessoas na rua onde ocorreu o acidente, pediu a elas que chamassem a polícia.

Após o atropelamento, o padre contou que foi até o convento onde morava, guardou o carro, que pertence à diocese de Ourinhos, e viajou para Ribeirão Preto (SP), onde iria aproveitar o Dia das Mães e o próprio aniversário no dia posterior.

Carro usado pelo padre no atropelamento foi apreendido em Santa Cruz do Rio Pardo — Foto: Polícia Civil/Divulgação
Carro usado pelo padre no atropelamento foi apreendido em Santa Cruz do Rio Pardo — Foto: Polícia Civil/Divulgação

Investigação

Durante as investigações, a polícia descobriu que o frei Gustavo, apesar de habilitado, deveria ter renovado a carteira de habilitação em fevereiro de 2020.

A defesa do padre mostrou um documento da União Europeia que o autorizava a dirigir. O aceite, do tempo em que ele morava na Espanha, no entanto, não é válido em território nacional. Por esse delito, Gustavo deve responder apenas administrativamente junto ao Detran.

O inquérito policial indiciou o padre por tentativa de homicídio qualificado, mas o caso agora é encarado como homicídio consumado. Nas duas vezes em que a polícia fez pedidos de prisão preventiva, contudo, o Ministério Público se posicionou contra e eles foram negados pela Justiça.

Já o homem atropelado, Ângelo, chegou a ser preso em flagrante no dia do atropelamento, mas estava sendo investigado em liberdade até sua morte.

Imagens mostram homem furtando paróquia antes de ser atropelado por padre em Santa Cruz do Rio Pardo (SP) — Foto: Reprodução/TV TEM
Imagens mostram homem furtando paróquia antes de ser atropelado por padre em Santa Cruz do Rio Pardo (SP) — Foto: Reprodução/TV TEM

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